A justiça de Deus é o Seu atributo que significa que Ele é perfeitamente justo. Não há qualquer injustiça em Deus e em seus feitos, pois Ele é plenamente correto e íntegro. O próprio Deus é o padrão final do que é justo e certo, e Ele sempre age de acordo com esse padrão.
Justiça é aquilo que está em conformidade com o que é reto; é a qualidade do que está de acordo com o cumprimento da lei. No estudo bíblico-teológico, frequentemente o atributo da justiça de Deus é também chamado de “retidão de Deus”.
O ensino bíblico sobre a justiça divina é muito claro, assim como também o é o ensino a respeito dos demais atributos de Deus. Por toda a Bíblia há inúmeras passagens que mostram a indignação divina diante do pecado do homem e a punição da injustiça.
Os aspectos da justiça de Deus
Muitas vezes os estudiosos falam da justiça de Deus em dois aspectos diferentes, mas diretamente interligados. O primeiro é chamado de “justiça interna”, e diz respeito a quem Deus é. Em seu próprio caráter Deus é absolutamente justo, ou seja, Ele não é justo meramente porque pratica a justiça, mas Ele pratica a justiça porque em si mesmo Ele é justo. Já o segundo aspecto é chamado de “justiça externa”, e diz respeito ao que Deus faz. Por ser justo, Ele só faz o que é reto.
Então sendo inteiramente justo, Deus manifesta Sua justiça em Seu governo do mundo, impondo às suas criaturas uma exigência moral de acordo com a retidão da Sua vontade. Relacionado a isso, a teologia também fala da justiça de Deus no sentido distributivo. Deus aplica Sua lei de forma justa e imparcial, recompensando o justo e punindo o injusto.
Deus recompensa homens e anjos que andam em retidão. Esse ato de Deus recompensar os obedientes é chamado de “justiça remunerativa”. Mas considerando que ninguém, por seus próprios méritos, é capaz de ser absolutamente justo diante do padrão moral de Deus, a justiça remunerativa é também uma expressão do amor divino (cf. Lucas 17:10; 1 Coríntios 4:7). Como explica Louis Berkhof, as recompensas que Deus concede às Suas criaturas são frutos da Sua graça e resultam de uma relação pactual estabelecida por Ele (Teologia Sistemática, 1949).
Por um lado, intrinsecamente o homem não merece a recompensa que recebe de Deus, mas por outro ele é sempre merecedor do castigo que recebe. Então se a justiça remunerativa trata das recompensas para os justos, a justiça retributiva trata da punição aos injustos. Por ser justo, Deus castiga àqueles que andam na transgressão da Sua lei (Romanos 1:32; 12:19; 2 Tessalonicenses 1).
A justiça divina exige que o pecado seja punido, pois se não fosse assim, então não haveria justiça. Se a justiça remunerativa expressa o amor divino, a justiça retributiva expressa a ira divina.
A justiça de Deus na Bíblia
Logo no primeiro livro bíblico vemos a manifestação da justiça de Deus em alguns eventos emblemáticos como na maldição após a Queda (Gênesis 3); no dilúvio (Gênesis 6-9); e na destruição das cidades de Sodoma e Gomorra (Gênesis 18).
Ainda no livro de Gênesis encontramos a enfática declaração de Abraão sobre a justiça de Deus. No contexto do derramamento do juízo de Deus sobre Sodoma, Abraão argumenta que jamais Deus trataria de igual forma o justo e o ímpio, pois isso resultaria numa injustiça. Então na sequência ele diz: “Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gênesis 18:25).
Também no Pentateuco Deus é chamado de justo repetidas vezes, enfatizando o fato de que Ele é fiel, reto e não comete erros (Êxodo 9:27; Deuteronômio 32:4). Essa verdade se estende pelos livros históricos, poéticos e proféticos do Antigo Testamento. Inclusive, no livro de Salmos o ensino bíblico explica que a justiça de Deus é manifestada em toda parte e também é a causa da preservação dos homens e dos animais (Salmo 36:6).
Através do profeta Isaías, o próprio Deus fala sobre Sua justiça: “[…] Eu sou o Senhor, que falo a justiça e anuncio coisas retas” (Isaías 45:19). Perfeito em Sua retidão, Deus não precisa dar qualquer satisfação ao homem sobre Sua justiça, e todo questionamento do homem nesse sentido é uma tentativa louca de colocar em dúvida a justiça de Deus (cf. Jó 40:8).
No Novo Testamento esse mesmo princípio é mantido, onde fica claro que Deus é o Criador e o homem é a criatura que não tem o direito de questionar os padrões divinos (Romanos 9:14-22).
Mas sem dúvida a maior conexão acerca da justiça de Deus no Antigo e no Novo Testamento encontra-se na pessoa de Cristo. No Antigo Testamento Cristo é o Renovo Justo prometido por Deus (cf. Jeremias 23; Zacarias 9:9); Ele é o Juiz anunciado que haveria de julgar não pelo que os olhos vêem, mas pela reta justiça (cf. Isaías 11:3-5).
O amor e a justiça de Deus
Algumas pessoas pensam que há uma tensão entre o amor e a justiça de Deus. Elas dizem que o atributo da justiça revela um Deus severo e irado que não combina com o atributo do amor que revela um Deus misericordioso e longânimo. Inclusive, muitas dessas pessoas acabam criando para si a imagem de um deus cuja justiça é negligenciada em favor do amor. Mas definitivamente esse não é o Deus da Bíblia.
Obviamente não há qualquer incompatibilidade entre a justiça e o amor de Deus. Em primeiro lugar, o castigo divino pelo pecado não é uma arbitrariedade por parte de Deus, mas é uma preservação de Sua justiça. Se Deus deixasse o pecado impune Ele não seria justo, e se Ele não fosse justo Ele também não seria verdadeiramente amoroso, pois que garantia haveria no amor de um ser injusto?
Em segundo lugar, Deus não é uma soma de atributos, como se fosse metade justiça e metade amor. Deus é um ser uno; Ele é totalmente amor e totalmente justiça, e seus atributos definem uns aos outros. Dessa forma, Deus é amorosamente justo e justamente amoroso.
Então a justiça de Deus é expressa em Seu amor, bem como o amor de Deus é expresso em Sua justiça. Isso fica claro quando olhamos para Cristo. O apóstolo Paulo explica Deus enviou a Cristo “como sacrifício para a propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça” (Romanos 3:25).
Cristo e a justiça divina
As pessoas frequentemente olham para Cristo e enxergam apenas o amor de Deus, quando também deveriam enxergar a Sua justiça. Em Cristo vemos que Deus é tão amoroso a ponto de entregar seu próprio Filho para morrer por pecadores; ao mesmo tempo em que vemos que Ele é tão justo a ponto de não poupar nem mesmo o seu próprio Filho que assumiu o lugar dos pecadores.
Portanto, como diz H. Bavink em sua Dogmática Reformada, a manifestação da justiça de Deus é simultaneamente a manifestação de Sua graça (cf. Salmo 116:5). Então até mesmo o perdão de pecados é devido à justiça divina (1 João 1:9). Além do mais, pelos méritos de Cristo os redimidos são justificados pela justiça de Deus e colocados numa posição de honra e bem-aventurança na família celestial.
Por tudo isso a justiça de Deus jamais deve ser um motivo de descontentamento para os crentes, mas um motivo de conforto e gratidão. Se Deus não fosse justo, não teríamos qualquer base para confiar n’Ele, e não haveria qualquer esperança de que o bem triunfará por toda a eternidade. Mas a boa notícia é que Deus é perfeitamente reto, e todos os seus caminhos são justos (Deuteronômio 32:4). Então louvemos ao Senhor todos os dias por Sua justiça perfeita; e que jamais esqueçamos que a vontade de Deus para nós é que também sejamos justos (Miqueias 6:8).
(Daniel Conegero)
Nenhum comentário:
Postar um comentário